Quando se diz "eu confio em você", normalmente se quer dizer "eu acho que você será leal a mim", ou melhor, "eu acho que você nunca trairia a minha confiança intencionalmente".
Mas há outro aspecto da confiança muito importante e pouco explorado nas relações afetivas, que é o de acreditar na capacidade (técnica) do outro. Nos pequenos favores e conselhos que amigos trocam entre si (grandes, quando se trata de familiares), não basta acreditar que o outro não trairia a sua confiança. É preciso acreditar que ele seja capaz de dar aquele conselho ou prestar aquele favor. É preciso confiar em sua capacidade, inteligência ou sagacidade. Ou até mesmo em seu nível de informação: é inútil pedir ajuda a um amigo que simplesmente não tem informações suficientes sobre a situação para opinar. Por exemplo, o amigo mais leal não pode te ajudar a estudar cálculo, se for leigo em matemática.
Nesse sentido, não há nada de errado em desconfiar de amigos e pessoas próximas. Não há nada de errado em recusar a ajuda deles, não há nada de errado em preferir tomar decisões independentemente, mesmo que o risco de errar seja grande. Pelo contrário: é importante perceber as falhas e limitações de seus amigos. É importante perceber a diferença entre proximidade afetiva e inteligência (no sentido de "capacidade de perceber a realidade objetivamente"). E mesmo que não haja motivo nenhum para acreditar mais em si mesmo do que nos outros, é importante testar as próprias decisões e cometer os próprios erros.
Então, não há motivo para ter pudor em dizer "eu te amo, mas não confio em você para isso". O amor não deixa de ser verdadeiro, e a confiança no sentido afetivo permanece intacta. Quem ouve uma frase dessas não deve se sentir ofendido. Pelo contrário: seu amigo não estaria sendo leal se aceitasse sua ajuda mesmo sem confiar em você. Estaria mentindo, te enganando, estaria traindo sua confiança no sentido afetivo.
Algumas tarefas e decisões têm que ser feitas individualmente, e benditos sejam os amigos que conseguem respeitar isso.
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