
A Jenny Holzer é uma artista conceitual que, no final dos anos 70, escreveu várias frases curtas, imprimiu-as em papel e colou por vários lugares de Nova York, anonimamente. Essas frases normalmente são bem objetivas e expressam visões de mundo bem abrangentes, e às vezes bem fora do senso comum. Alguns exemplos:
Abuse of
power comes as no surprise
Freedom is
a luxury not a necessity
Hiding your
emotions is despicable
A lot of
professionals are crackpots
Your oldest
fears are the worst ones
Looking
back is the first sign of decadence and decay
If you can’t
leave your mark give up
O que a Jenny Holzer fez não era completamente novo na
época: pichações sempre foram comuns, afinal, e a China tem uma tradição bem
parecida que é a dos dazibaos, cartazes anônimos com mensagens curtas colados
nos muros públicos. Mesmo assim, acho que a coisa mais interessante nesses
truísmos é a generalidade das afirmações e a falta de contexto, pelo menos na
primeira publicação deles. Também tem o fato de que eles não são todos
coerentes entre si e tem algumas opiniões extremamente minoritárias – opiniões que,
num contexto normal, alguém teria que justificar amplamente se fosse revela-las
em público. Mas quando a frase fica solta assim, sem muito contexto, é muito
mais tranquilo simplesmente tentar analisá-la pelo que ela quer dizer, em vez
de armar mil e uma defesas para provar que você nunca concordaria com um
absurdo desses.
Outra coisa que eu curto bastante nesses truísmos é o
exercício de pegar a frase já pronta e elaborar em cima, em vez de fazer um
longo raciocínio para só depois chegar numa máxima. De certo modo, acho que a
Jenny Holzer antecipou a cultura do Twitter e dos memes, em que as máximas – e,
portanto, os consensos – não são passados de geração em geração, e não são
elaborados coletiva e hierarquicamente (pelos “sacerdotes” da produção de
cultura de determinada época, como religiosos, intelectuais, artistas,
professores e celebridades). Ao contrário, é um processo extremamente
fragmentado, em que as máximas (os memes) aparecem primeiro e a elaboração é
feita depois, pelo próprio leitor. Nesse mundo, a formação intelectual é bem
diferente do que foi na geração dos meus pais ou até na minha geração. A nível
macro, ainda não dá para saber se as consequências disso vão ser boas ou ruins
(se bem que a onda conservadora generalizada – Trump, Duterte, brexit – pode
ser um sinal negativo). De qualquer modo, eu pessoalmente gosto muito dessas
frases, e provavelmente vou continuar revisitando-as periodicamente por um bom
tempo.