quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Cultura

"La mejor política cultural es no tener ninguna. Defender a nuestra cultura. Siempre se considera la cultura como algo débil, como algo frágil, como algo raquítico que necesita ser custodiado, protegido, promovido y subvencionado. La cultura es indestructible, capaz de sobrevivir a las peores hecatombes. Hubo una tribu salvaje en África en cuyo lenguaje no existía la palabra libertad. ¿Saben por qué? Porque eran libres. Creo que la palabra cultura siempre sale de la boca de la gente más ignorante, más estúpida, más peligrosa. Yo personalmente no la uso nunca."

- O Cidadão Ilustre, filme escrito por Andrés Duprat

domingo, 3 de dezembro de 2017

“You fight your superficiality, your shallowness, so as to try to come at people without unreal expectations, without an overload of bias or hope or arrogance, as untanklike as you can be, sans cannon and machine guns and steel plating half a foot thick; you come at them unmenacingly on your own ten toes instead of tearing up the turf with your caterpillar treads, take them on with an open mind, as equals, man to man, as we used to say, and yet you never fail to get them wrong. You might as well have the brain of a tank. You get them wrong before you meet them, while you're anticipating meeting them; you get them wrong while you're with them; and then you go home to tell somebody else about the meeting and you get them all wrong again. Since the same generally goes for them with you, the whole thing is really a dazzling illusion. ... The fact remains that getting people right is not what living is all about anyway. It's getting them wrong that is living, getting them wrong and wrong and wrong and then, on careful reconsideration, getting them wrong again. That's how we know we're alive: we're wrong. Maybe the best thing would be to forget being right or wrong about people and just go along for the ride. But if you can do that -- well, lucky you.”
― Philip Roth, American Pastoral

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A cena da terapia em rick and morty

Therapist: Why didn't you want to come here?

Rick: Because I don't respect therapy, because I'm a scientist.

Because I invent, transform, create, and destroy for a living, and when I don't like something about the world, I change it.

And I don't think going to a rented office in a strip mall to listen to some agent of averageness explain which words mean which feelings has ever helped anyone do anything.

I think it's helped a lot of people get comfortable and stop panicking, which is a state of mind we value in the animals we eat, but not something I want for myself.

I'm not a cow.

I'm a pickle When I feel like it.

So you asked.

Therapist: Rick, the only connection between your unquestionable intelligence and the sickness destroying your family is that everyone in your family, you included, use intelligence to justify sickness.

You seem to alternate between viewing your own mind as an unstoppable force and as an inescapable curse.

And I think it's because the only truly unapproachable concept for you is that it's your mind within your control.

You chose to come here, you chose to talk to belittle my vocation, just as you chose to become a pickle.

You are the master of your universe, and yet you are dripping with rat blood and feces.

Your enormous mind literally vegetating by your own hand.

I have no doubt that you would be bored senseless by therapy, the same way I'm bored when I brush my teeth and wipe my ass.

Because the thing about repairing, maintaining, and cleaning is it's not an adventure.

There's no way to do it so wrong you might die.

It's just work.

And the bottom line is, some people are okay going to work, and some people well, some people would rather die.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Time's arrow marches forward

Outro dia eu parei pra rever a primeira temporada de Bojack Horseman. Episódio vai, episódio vem, e eu começo a notar um padrão absurdo: frases ditas en passant que revelam com clareza absurda o futuro dos personagens. Temos a frase que a Sarah Lynn diz quando é uma criancinha, no camarim; a primeira frase que o Bojack diz para o Herb; a primeira cena em que a Princess Carolyn aparece; a primeira vez que o nome da Diane é mencionado. O roteiro é ridiculamente consistente sobre as expectativas e motivações dos personagens. As temporadas 2, 3 e 4 não são remendos ou histórias criadas aleatoriamente a partir do que eles acham que agradaria o público; são arcos que sempre estiveram ali, guardados, prontos para serem desenvolvidos. Os roteiristas criaram uma tonelada de bom material e não usaram tudo de uma vez: deixaram a história transcorrer naturalmente, para os arcos surgirem quando fosse oportuno.

Eu juro que não comecei a escrever esse texto só para elogiar o roteiro, tenho um ponto ainda. Bear with me.

Bojack é uma série muito pesada, isso é consenso. Não só enfrenta temas pesados, como geralmente não consegue um final otimista. Vários episódios acabam com os personagens tristes, frustrados, com conflitos mal resolvidos, desconfiados uns dos outros, desiludidos. Às vezes, algum conflito muito longo acaba sem resolução nenhuma, e você se pergunta até se valeu a pena ver. Afinal, pra que isso? Pra que se torturar vendo uma história que não vai acabar de nenhum jeito decente, que vai te lembrar de todas as suas histórias mal resolvidas e que não vai te trazer nada além de mágoa, ressentimento e raiva?

Bom... Porque Bojack não é só isso.

Como eu expliquei no começo, os arcos narrativos são muito bem planejados e amarradinhos. Os roteiristas não estão largando os personagens a esmo. Eles têm algum plano para eles (além de fazê-los sofrer). Sim, quando você olha no micro, pode parecer que não tem plano nenhum, que é tudo caótico e que o destino dos personagens é voltar sempre ao status quo, às suas vidas tristes. Mas a verdade é que a história está se desenvolvendo e os personagens estão indo para algum lugar: a gente só não consegue discernir muito bem para onde é.

Minha teoria é que o grande lema de Bojack (ou um dos grandes lemas, pelo menos) é que as lições demoram para serem aprendidas. Tem muita coisa que cada personagem poderia fazer, desde o começo, para chegar mais perto de onde quer. Mas é difícil saber exatamente o que se quer, é difícil começar a ir na direção certa, é difícil vencer a paralisia. E mesmo quando alguma coisa trágica acontece, mesmo quando parece que o universo está berrando na cara de um personagem que ele deveria fazer alguma coisa, mesmo quando ele já cometeu um erro três vezes e está prestes a cometer a quarta... Ele faz a coisa errada de novo. Por n motivos. Por medo, insegurança. Porque ele não é completamente racional. Porque ele acha que não merece ser feliz. Porque ele tem medo de falhar.

Então os personagens vão lá, erram, fazem escolhas estúpidas, sentem pena e raiva de si mesmos, erram e erram de novo. Em algum ponto eles vão aprender; mas isso não necessariamente conserta as coisas. Eles podem aprender depois que alguma coisa irreversível já tenha acontecido. Podem machucar a si mesmos e aos outros no processo. Podem perder muitas oportunidades.

Para mim, essa é a grande tragédia de Bojack: saber que você pode aprender com seus erros, mas nem sempre isso vai ser suficiente. E mesmo assim continuamos aprendendo, continuamos aprendendo enquanto estamos vivos.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

"When I was in junior high and high school, I had this friend of mine, and we'd always try to write the most disgusting thing we ever could, we'd always switch off every other sentence, we'd sort of fill in where the other left off and try to gross each other out" - Trey Parker and Matt Stone, "The tale of scrotie mcboogerballs - Commentary"

___________________________________________


Vi o filme de South Park por acaso quando eu tinha uns 10 anos (alguém deixou a TV ligada na HBO) e fiquei fascinada. Eu nunca tinha visto nada tão ~iconoclasta~, irreverente, piadista, criativo, ousado. Desde então virou um dos meus filmes preferidos.

Algumas semanas atrás tentei mostrar para um amigo e, quanto mais eu procurava alguma cena que ia fazer ele morrer de rir e gostar do filme tanto quanto eu, mais eu percebia que não tinha praticamente nenhuma cena assim. O filme não era tão engraçado. Pareceu engraçado quando eu era uma pirralha e fiquei impressionada com a edgyness da coisa toda, mas, no fim das contas, era só ok. Ousadia não faz um bom filme. Precisa de alguma dose de criatividade e de sinceridade.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Truísmos da Jenny Holzer

JENNY HOLZER

A Jenny Holzer é uma artista conceitual que, no final dos anos 70, escreveu várias frases curtas, imprimiu-as em papel e colou por vários lugares de Nova York, anonimamente. Essas frases normalmente são bem objetivas e expressam visões de mundo bem abrangentes, e às vezes bem fora do senso comum. Alguns exemplos:

Abuse of power comes as no surprise
Freedom is a luxury not a necessity
Hiding your emotions is despicable
A lot of professionals are crackpots
Your oldest fears are the worst ones
Looking back is the first sign of decadence and decay
If you can’t leave your mark give up

(O resto das frases está disponível aqui)

O que a Jenny Holzer fez não era completamente novo na época: pichações sempre foram comuns, afinal, e a China tem uma tradição bem parecida que é a dos dazibaos, cartazes anônimos com mensagens curtas colados nos muros públicos. Mesmo assim, acho que a coisa mais interessante nesses truísmos é a generalidade das afirmações e a falta de contexto, pelo menos na primeira publicação deles. Também tem o fato de que eles não são todos coerentes entre si e tem algumas opiniões extremamente minoritárias – opiniões que, num contexto normal, alguém teria que justificar amplamente se fosse revela-las em público. Mas quando a frase fica solta assim, sem muito contexto, é muito mais tranquilo simplesmente tentar analisá-la pelo que ela quer dizer, em vez de armar mil e uma defesas para provar que você nunca concordaria com um absurdo desses.

Outra coisa que eu curto bastante nesses truísmos é o exercício de pegar a frase já pronta e elaborar em cima, em vez de fazer um longo raciocínio para só depois chegar numa máxima. De certo modo, acho que a Jenny Holzer antecipou a cultura do Twitter e dos memes, em que as máximas – e, portanto, os consensos – não são passados de geração em geração, e não são elaborados coletiva e hierarquicamente (pelos “sacerdotes” da produção de cultura de determinada época, como religiosos, intelectuais, artistas, professores e celebridades). Ao contrário, é um processo extremamente fragmentado, em que as máximas (os memes) aparecem primeiro e a elaboração é feita depois, pelo próprio leitor. Nesse mundo, a formação intelectual é bem diferente do que foi na geração dos meus pais ou até na minha geração. A nível macro, ainda não dá para saber se as consequências disso vão ser boas ou ruins (se bem que a onda conservadora generalizada – Trump, Duterte, brexit – pode ser um sinal negativo). De qualquer modo, eu pessoalmente gosto muito dessas frases, e provavelmente vou continuar revisitando-as periodicamente por um bom tempo.

domingo, 7 de maio de 2017

Confiança

Quando se diz "eu confio em você", normalmente se quer dizer "eu acho que você será leal a mim", ou melhor, "eu acho que você nunca trairia a minha confiança intencionalmente".

Mas há outro aspecto da confiança muito importante e pouco explorado nas relações afetivas, que é o de acreditar na capacidade (técnica) do outro. Nos pequenos favores e conselhos que amigos trocam entre si (grandes, quando se trata de familiares), não basta acreditar que o outro não trairia a sua confiança. É preciso acreditar que ele seja capaz de dar aquele conselho ou prestar aquele favor. É preciso confiar em sua capacidade, inteligência ou sagacidade. Ou até mesmo em seu nível de informação: é inútil pedir ajuda a um amigo que simplesmente não tem informações suficientes sobre a situação para opinar. Por exemplo, o amigo mais leal não pode te ajudar a estudar cálculo, se for leigo em matemática.

Nesse sentido, não há nada de errado em desconfiar de amigos e pessoas próximas. Não há nada de errado em recusar a ajuda deles, não há nada de errado em preferir tomar decisões independentemente, mesmo que o risco de errar seja grande. Pelo contrário: é importante perceber as falhas e limitações de seus amigos. É importante perceber a diferença entre proximidade afetiva e inteligência (no sentido de "capacidade de perceber a realidade objetivamente"). E mesmo que não haja motivo nenhum para acreditar mais em si mesmo do que nos outros, é importante testar as próprias decisões e cometer os próprios erros.

Então, não há motivo para ter pudor em dizer "eu te amo, mas não confio em você para isso". O amor não deixa de ser verdadeiro, e a confiança no sentido afetivo permanece intacta. Quem ouve uma frase dessas não deve se sentir ofendido. Pelo contrário: seu amigo não estaria sendo leal se aceitasse sua ajuda mesmo sem confiar em você. Estaria mentindo, te enganando, estaria traindo sua confiança no sentido afetivo.

Algumas tarefas e decisões têm que ser feitas individualmente, e benditos sejam os amigos que conseguem respeitar isso.

domingo, 23 de abril de 2017

“Everybody knows there’s something wrong with them—they just don’t know what it is. Everybody wants confession, everyone wants some cathartic narrative, especially the guilty. Oh, but everybody’s guilty.” - True Detective
"Dead Poets Society... is far less about Keating than about a handful of impressionable boys" - Vincent Canby, crítico do The New York Times

sábado, 11 de março de 2017

And you, well, you're american
Self-important, boiling over
To prove that she must still exist
She moves herself about her fist
And won't ever never give a shit
About all those words you're wasting

To gain some pretty, bright and bubbly
Wondrous dream you'd like to kill and cling and claim her as your own
But don't you worry
All those dainty and dirty
Emotions just go away
And fade out on their own

Neutral Milk Hotel - Oh, Sister

segunda-feira, 6 de março de 2017

"— Não quero te assustar — ele disse — mas vejo você, com toda a clareza, morrendo nobremente, de uma forma ou de outra, por uma causa qualquer absolutamente indigna.

Me olhou de um jeito engraçado.

— Se eu escrever umas palavras para você, promete que vai ler cuidadosamente? E guardar?

— Prometo, sim — respondi. E era verdade. Até hoje guardo o papel que ele me deu.

Foi até a escrivaninha, no outro lado da sala, e escreveu alguma coisa num pedaço de papel, sem se sentar. Aí voltou e se sentou, com o papel na mão.

— Por estranho que pareça, isso não foi escrito por um poeta. Foi escrito por um psicanalista chamado Wilhelm Stekel. Aqui está o que ele... você ainda está me ouvindo?

— Claro que estou.

— Aqui está o que ele disse: 'A característica do homem imaturo é aspirar a morrer nobremente por uma causa, enquanto que a característica do homem maduro é querer viver humildemente por uma causa'."


O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger


It's alright you wanna fight: you've got a hunger
See, I was just like you when I was younger
Head full of fantasies of dying like a martyr
"Yes"
Dying is easy, young man: living is harder

- Hamilton, um musical de Lin-Manuel Miranda
Trust me, I've been there before
I would not wish it upon
My greatest enemy
What irony
Once friends, but I find
You'll have to learn this lesson on your own

(Streetlight Manifesto - Point/Counterpoint)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Sobre fatalismo

Um poema sobre pessimismo

Suppose, this time, Goliath should not fail
Suppose, this time, the sling should not avail
On the Judean plain where once for all
Mankind the pebble struck; suppose the tale
Should have a different end: the shepherd yield,
The triumph pass to iron arm and thigh
The wonder vanish from the blooming field,
The mailed hulk stand, and the sweet singer lie.

Suppose, but then what grace will go unsung,
What temple wall unbuilt, what gardens bare;
What plowshare broken and what harp unstrung!
Defeat will compass every heart aware.
How black the ramparts of a world wherein
The psalm is stilled, and David does not win.


— Marie Syrkin.